Esta é a primeira crônica desta newsletter como “Fruta Doce” e o assunto é saudade.
Vocês vão descobrir que eu vivo de memórias.
Às vezes, dependendo de como se fala, parece que toda saudade só pode ser triste, um caminho sem volta para um buraco dentro da gente. Mas existe tanta saudade boa, eu posso dizer.
Certa vez uma amiga querida me perguntou como faço para lidar com a saudade de casa, vivendo há tantas distâncias da minha família. Acontece que eu nunca procurei cura nenhuma: eu não lido com a saudade, só convivo com ela — foi o que eu respondi.
Essa saudade às vezes é tudo que tenho no final do dia e eu não abro mão dela de jeito nenhum. Minha casa agora cheira a capim cidreira porque minha avó me ensinou que se colocar os ramos para secar, tenho chá pra vida toda.
Seja num cheiro, num sabor, num detalhe na roupa, desde que tive de ir para longe de casa decidi que ia plantar saudade não importa a terra. Nunca fico sem ela dentro de casa, é como um item de sobrevivência.
Tem música que eu escuto só pra sentir essa saudade. Eu não gosto de apartamento, não fui criada para viver assim, mas tem dias que coloco aquele álbum do Cícero só porque as canções me lembram o céu lá de casa no final da tarde, a roupa esticada na corda, o lençol cheirando amaciante no quintal e a vida fresca.
Uma vez paguei um real em uma blusa de brechó porque era do mesmo tecido de um conjunto que minha mãe usava quando eu era pequena. E em um dos meus primeiros dias no trabalho novo, advinha? Usei ela. Vesti saudade na cara dura mesmo e fui ser feliz junto de mainha, mesmo longe. Esse é o tipo de saudade que me move para distâncias que nem sempre são ruins e me faz fica forte, me movimenta.
— H. Conrado
Que lindo !
que lindo 🥺